A primeira vez que vi a notícia de que o Instagram iria testar um feed sem likes, eu sinceramente duvidei e não imaginei que eles realmente implementariam um teste em larga escala, como aconteceu recentemente.
Existem algumas implicações que eu gostaria de expor e claro, como quase toda mudança a que somos expostos, existe o lado positivo e o negativo.
O ponto de vista que estou expondo, considera o lado de um profissional que atua com marketing digital.
Sobre o lado positivo
Navegar pelo feed do Instagram e interagir sem ser impactado pelos likes é algo bem positivo. No geral, acredito que isso torne a experiência de interação com o conteúdo um pouco mais genuína.
Não se comparar definitivamente é um fator relevante. Pode não acontecer com você, mas muitas pessoas sofrem com a comparação através do número de curtidas. Em alguns casos é só inveja mesmo =D, mas em muitos casos, existe uma comparação involuntária e que possui impactos que eu considero significativos para a saúde mental.
Cuidados especiais para profissionais da área
Trabalhando com estratégia digital, sempre que existe uma limitação em termos de aquisição de dados, dificulta o processo de análise e nos obriga a um esforço maior para análise. Isso não é necessariamente ruim, mas é desconfortável.
Caso o Instagram realmente resolva implementar este teste como algo fixo, espero que ainda seja possível adquirir os dados via API. Dessa forma, as ferramentas de análise não serão impactadas. Agora, se o Instagram ocultar os dados também da API, isso nos obriga a tomar um cuidado ainda maior com a análise.
“Ah, mas os likes não importam! O que importa é…”
Para mim eles importam e importam muito. Eu não dou like em qualquer coisa, se eu parei e dei like em algo, pode ter certeza que significou algo para mim. Todo mundo é assim? Definitivamente não, mas dizer que os likes não importam é um excesso de simplificação.
Agora o que não importa tanto, é mostrar o like para os outros. Justamente por isso acho a medida interessante. Mas por favor, para um profissional dizer que o like não importa, é o mesmo que dizer que o cliente prestar atenção no seu produto no ponto de venda não é relevante caso ele não compre.
A minha principal premissa é que precisamos testar para entender exatamente o que o público quer. Eu perdi a conta de quantas vezes imaginei que um conteúdo não seria interessante e no final das contas o engajamento através de likes e comentários me disse algo além. Isso ainda vai acontecer, claro, eu continuo tendo acesso ao número de likes e essa experiência não será alterada, mas do ponto de vista da análise competitiva, fico limitado a entender o que funcionou melhor para outras marcas/produtos/serviços.
É o que eu disse, não é necessariamente ruim, mas é mais trabalhoso. Você vai ter que ir além para entender o que engaja ou não para o seu público. Testar.
Sobre os influenciadores
Eu vi um movimento do tipo: “Ah, agora os creators estão ferrados.”. Quase tive a percepção de que estavam torcendo para que os creators tivessem “menos poder” nas mãos. Achei estranho.
Para quem produz conteúdo, a criação de um bom mídia kit com dados atualizados e relevantes para o segmento em que atua nunca foi tão necessário. Isso sempre foi importante, mas agora é uma obrigação.
Muitas marcas contratam creators com base no número de seguidores e no número de likes. Em muitos casos existe preço tabelado, dependendo do tamanho da audiência que um creator é capaz de impactar. Algo semelhante ao que temos em outras mídias.
Deste ponto de vista, a ocultação dos likes é um grande problema. Muitas empresas vão passar a olhar exclusivamente o número de seguidores (apesar dos comentários estarem lá ). Uma das principais consequência a curto prazo é que devemos ter uma nova guerra por número de seguidores. Talvez ela nunca tenha deixado de existir, mas agora, para muitos creators pode passar a ser uma obrigação ter um número maior de seguidores.
Se você é empresa, como você pode ajudar nesse processo?
Por favor, se você trabalha contratando influencers/creators, não se baseie exclusivamente nos seguidores. Procure entender a profundidade do engajamento deste produtor com a sua comunidade. Faça o esforço de analisar cuidadosamente o mídia kit. Identifique oportunidades com micro influenciadores e procure trazê-los para o mercado com ações coordenadas, elaboradas e que vão além do “clique e compre”.
Lembre-se do brand awareness e como, no final das contas, ele pode impactar diretamente o seu custo de aquisição. Vá além.
Se você é creator/influencer, como você pode ajudar nesse processo?
Ajude as empresas a entenderem porque o seu relacionamento com o seu público é único. Tenha um mídia kit atualizado e se você já tem alguma experiência, não deixe de incluir os números das ações que já participou.
É inacreditável o número de creators que já se dedicam em tempo integral e mesmo assim é difícil extrair números de engajamento de ações anteriores.
Vá além e use Analytics para entender a fundo a sua audiência e otimizar não só com base na percepção, mas também com base em dados.
O mercado está se profissionalizando e tornando-se cada vez mais competitivo.
Porque é só o começo
Nós vivemos uma época em que privacidade passa a ter uma importância e um destaque sem precedentes. Poucas pessoas se importavam em compartilhar os dados por volta de 2010 e isso vem mudando drasticamente ano a ano.
Antes era possível monitorar comentários públicos no Facebook (mesmo de amigos para amigos) de forma aberta. Durante alguns anos, foi uma fonte incrível para aquisição de dados e inteligência. Hoje isso já não é mais possível.
As APIs são mais limitadas, mais seguras e isso é bom. Temos que respeitar a privacidade e entender o impacto do compartilhamento de dados no dia a dia. Mas, do ponto da análise competitiva fica claro que estamos diante de um desafio cada vez maior.
Estamos no início de um estado de compreensão mais elevado sobre o impacto da privacidade. Esteja preparado.
Considerações finais
Considero a mudança positiva. Pode representar um desafio maior em termos de análise, vai exigir adatapção na forma como os creators/influencers são analisados e vai exigir uma organização maior para demonstrar resultados.
Mas no final das contas, qual evolução é confortável e agradável para todos?
Vale lembrar, que este é um comentário que se baseia na minha opinião sobre um recurso que ainda está em teste, mas o que não está em teste é levar privacidade e saúde mental a sério. Isso é real e não vai para lugar nenhum.